Coren-AP

A solenidade aconteceu na cidade de São José, na região metropolitana de Florianópolis, e fez parte da programação do 23º CBCENF. Com distanciamento social, uso de máscaras e respeito a todos os protocolos sanitários, os presentes puderam conhecer e se emocionar com as histórias dos 32  profissionais homenageados, escolhidos após indicação dos Conselhos de Enfermagem.

A enfermeira Veronica Batista Cambraia Favacho foi a indicada pelo Coren Amapá e recebeu o Prêmio Anna Nery, durante cerimônia oficial no decorrer do 23º Congresso Brasileiro dos Conselhos de Enfermagem. Esta é a maior honraria concedida pelo Cofen à Enfermagem brasileira desde 2012. Com trajetórias distintas, os homenageados têm em comum o compromisso com a Enfermagem e o senso de humanização e cuidado. No caso da Enfermeira Veronica sua indicação deve-se ao trabalho realizado de forma ética e transparente na Coordenação da Comissão de Controle e Acompanhamento de casos de COVID-19 em Macapá-AP, onde desempenhou importante papel no exercício de sua profissão. Ressaltamos ainda, que a profissional vem contribuindo de forma significativa na assistência, gestão, ensino e pesquisa em nossa região.

A presidente do Coren Amapá, Dra Emília Pimentel, Conselheiros do Regional e o Coordenador do Comissão Regional dos Profissionais de Enfermagem Militar Major Luís Henrique Cirino  também acompanharam o evento.

 

Sobre a Homenageada:

Veronica, possui graduação em Enfermagem pela Universidade Federal do Amapá -Unifap (2000), também é especialista em Educação Profissional na área de Saúde: Enfermagem pela Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca-Ensp/Fiocruz (2003), especialista em Epidemiologia pela Unifap (2006), e em Saúde da Família – Unifap (2012), mestre em Ciências da Saúde pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal do Amapá(2014) e doutora em Ciências pelo Programa Interunidades de Doutoramento em Enfermagem da Escola de Enfermagem de São Paulo – EEUSP(2019). Em 2020 dividiu o ano na Coordenação da Comissão de Controle e Acompanhamento de casos de COVID-19 em Macapá-AP e na Coordenação da Comissão de Estratégia de Gestão de Apoio à Tomada de Decisão no Combate à COVID-19 no âmbito da Secretaria Municipal de Macapá. Atualmente desenvolve suas atividades como professora assistente do curso de Bacharelado em Enfermagem do Departamento de Ciências Biológicas e da Saúde- Unifap (2013). Atua também  como Assessora Técnica na Secretaria Adjunta de Enfrentamento à COVID – 19 da Secretaria Estadual de Saúde do Amapá/ SAEC – SESA. Membro do Grupo de pesquisa em Saúde Mental e Enfermagem Psiquiátrica da Unifap, do Grupo de Estudos em álcool e outras drogas-EEUSP, cadastrados no CNPq e do Grupo Técnico de Saúde Mental do Coren Amapá desde 2018.

 Enfermeira Veronica é também uma das organizadoras e autoras da obra intitulada “Qualidade de Vida e Condições Crônicas no Meio do Mundo”, o livro traz resultados de pesquisas realizadas na cidade de Macapá, capital do estado do Amapá, evidenciando as temáticas de qualidade de vida e condições crônicas relacionadas à percepção das pessoas com hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, escalpelamento, vítimas de acidentes de trânsito, doença renal crônica, consumo de álcool e obesidade. O conteúdo que compõe esta obra propõe-se em apresentar resultados dos estudos realizados no Norte do Brasil, além de inter-relacionar os Diagnósticos de Enfermagem identificados no conjunto de condições crônicas, ainda pouco evidenciados e exercidos pelo corpo da enfermagem. Por seu conteúdo singular e descrição precisa, a leitura desta obra torna-se importante e indicada a todos que se interessam pelos achados sobre qualidade de vida em pessoas com condição crônica, conhecendo a realidade das pesquisas, como características sociodemográficas de cada amostra populacional estudada e percurso metodológico desenhado em cada estudo.

Confira a entrevista:

– Sua avaliação quanto ao trabalho da gestão pública em relação à Atenção Primária à Saúde, e também na média e alta complexidade na pandemia?

Veronica: Com o caos instalado no momento da pandemia a minha atuação se deu especificamente Atenção Primária da capital, onde eu me encontrava no momento em foi decretada a Pandemia, possibilitando três grandes experiências. A primeira foi a oportunidade de montar um serviço,  o telemonitoramento, com medidas de Controle e Acompanhamento de casos de COVID-19 em Macapá-AP, de suma importância e de um aprendizado gigantesco, foi desafiador montar um serviço de modo muito rápido e objetivo. Diante disso, o serviço de telemonitoramento das pessoas que eram suspeitas ou casos confirmados foi implantado e operante, com uma metodologia de prestar assistência de enfermagem diferenciada, não presencial, por telefone, que o cuidado de enfermagem acontecia (anamnese, diagnósticos e prescrições de enfermagem, escuta qualificada, era um momento muito delicado, todos os esforços voltados para salvar a vida das pessoas, de diminuir riscos, conter danos e melhorar a qualidade de vida, de alguma forma , da população como um todo. Essa foi uma atuação muito significativa, principalmente depois de um longo caminhar dentro da enfermagem, vivenciar essa condição tão atípica foi bem reflexivo e transformador. O grande desafio nesse processo todo foi primeiramente a dificuldade de compor equipe técnica para tal atividade, considerando um cenário com mão de obra pouco qualificada no atendimento da atenção primária. O outro grande desafio foi o medo dos profissionais de saúde e a resistência para desenvolver a assistência, os cuidados, mesmo que fosse por telemonitoramento. Finalmente, e não menos importante, o terceiro grande desafio, o mais excêntrico,  a vaidade de egos, talvez porque sempre trabalhei na assistência, me causava espanto as pessoas receosas em compartilhar suas gestões comigo, temiam a perda dos seus espaços de gestão ou/e poder, como em uma competição. Eu queria apenas contribuir, colaborar de alguma forma com o conhecimento técnico-científico que eu detenho. A indignação fazia parte da minha rotina, além do contexto de saúde pública (pandemia), político, econômico e social  eu ainda era permeada  por essa questão.

A minha avaliação enquanto profissional da enfermagem durante esta caminhada na atenção primária, imersos na crise sanitária, a estrutura física dos serviços de saúde desse segmento,  estava bem estruturada para a assistência na pandemia, um trabalho de longos anos da gestão pública. Então por isso a gente teve menos dificuldade de cuidar das pessoas. A gente conseguiu dar resolutividade de modo rápido juntamente com a estruturação da rede em recursos humanos. Visualizo uma dificuldade em menor grau do que na média e alta complexidade porque a rede de estrutura física já estava montada, preparada, facilitando criar fluxos, estabelecer referências e contra referências. Ressalto que na atenção primária   observou-se uma lacuna relevante, a ausência da Estratégia Saúde da Família  no enfrentamento à pandemia, acredito que a efetividade desse modelo de atenção à saúde resultaria em um resultado muito melhor, mais vidas teriam sido salvas. Com relação a média e alta complexidade,  o desafio foi maior, destacando o território mais abrangente e o número populacional. Além disso,  a ausência de estrutura física foi determinante, demandou mais tempo de resposta à pandemia.

Para concluir, uma questão crucial  foi a compreensão da eficácia das medidas de enfrentamento à COVID-19 pelo gestores do executivo, resultando na funcionalidade de comitês científicos, operacionalizando  o que a ciência  nos mostrou até aqui, medidas sanitárias, como o isolamento social, medidas de higiene, como  lavagem das mãos e uso de máscaras. Nesse sentido, o trabalho da gestão pública em relação à Atenção Primária à Saúde, e também na média e alta complexidade na pandemia foi decisivo para o êxito no combate à pademia.

– Nos fale sobre a sua obra, o seu livro: “Qualidade de Vida e Condições Crônicas no Meio do Mundo” o que o livro trás pra gente?

Veronica: Esta obra tem três enfermeiras organizadoras, também são professoras da Universidade Federal do Amapá: Francineide Pereira da Silva Pena, Ariely Nunes Ferreira de Almeida (In Memoriam) e eu Verônica Batista Cambraia Favacho. Traz um constructo muito estudado e relevante para área da saúde, apresenta como proposta a qualidade de vida, compilada em três momentos. A primeira apresenta os conceitos de qualidade de vida e sua complexidade, seu contexto histórico, instrumental; a segunda proposta apresenta dez capítulos que demonstram como as pessoas com doenças ou agravos crônicos no Meio do Mundo percebem a qualidade de vida, qual é a concepção dentro desse contexto de doença ou agravo crônico e, sendo hipertensão arterial, diabetes mellitus, escalpelamento, condição muito comum na nossa região amazônica, vítimas de acidente de trânsito, doença renal crônica, consumo de álcool e outras drogas e obesidade. Por fim, na terceira parte, a gente concluiu com um capítulo exclusivo sobre os diagnósticos de Enfermagem relacionados com os domínios da qualidade de vida. Toda a obra foi construída com muito carinho, técnica, ciência e compromisso, acreditando que o livro possa suscitar, de uma forma geral, nos profissionais da saúde, em especial na enfermagem, um olhar atento pras evidências científicas presentes no dia a dia, nas rotinas dos nossos serviços com os usuários do SUS, fazendo um link com o que o texto do livro apresenta enquanto evidência científica com a sua prática rotineira de assistência de enfermagem, agenciando no final um cuidado integral que é tão requerido na atenção à saúde.

– Por fim, qual o sentimento de estar sendo indicada para receber a honraria nacional que é concedida para a Enfermagem Brasileira?

O meu sentimento é de gratidão, orgulho, nostalgia, reflexão, é um misto de sentimentos. A vida nos reserva muitas surpresas. Receber esse prêmio de maior honraria nacional da Enfermagem Brasileira é uma das grandes surpresas na minha vida. Diante da minha caminhada pessoal e profissional eu carrego comigo muitas metas que foram alcançadas, muitos sonhos que foram sonhados e realizados, estudos concluídos, trabalho almejados, família, o reconhecimento das pessoas, amigos, pessoas especiais que chegaram, que ficaram e outras que se foram e, tudo isso deixando rastro de luz, de força e de energia positiva. Meu sentimento é de gratidão à Deus pelas minhas conquistas até aqui, lembrando que estas não são apenas minhas, eu reconheço o meu papel individual nessas conquistas, mas também não posso deixar de reconhecer o papel de muitas pessoas como a família, os amigos, os colegas de trabalho, de profissão, as pessoas especiais, os gestores que acreditaram no meu trabalho, os pacientes que confiaram no meu cuidado, Sentimento também de orgulho por ter construído uma trajetória tão transparente, humanizada, com muito amor, compromisso, responsabilidade, ética e também humildade. Hoje eu posso dizer que nem nos sonhos mais audaciosos sonhei está aqui, só fui, a força que me movia e me move é divina, cheguei nesse momento trabalhando com amor, como diz Gênesis 3:19 “…com o suor do teu rosto comerá o teu pão…” ,e hoje o meu pão ele tem um sabor doce. Sentimento de nostalgia por ter na memória lembranças dos obstáculos que foram superados, permitindo caminhar até chegar nesse ponto, recebendo esse reconhecimento. Outro sentimento que me vem é o de reflexão, esse prêmio me instiga a olhar para trás e enxergar uma jornada que foi desenhada com muito esforço e dedicação, dedicação à ciência que é a Enfermagem, o cuidado com o outro, também numa perspectiva de saúde coletiva e mais ainda, na docência, onde faço parte da formação de pessoas que fazem a enfermagem, cuidam de outras pessoas, juntos nós vamos transformando o mundo em um papel social. Agradeço imensamente ao Sistema COFEN/COREN, em nome da doutora Emília Pimentel, Presidente do Coren-AP, pela honraria concedida e parabenizo pela brilhante ideia de Premiação dos Profissionais de Enfermagem como reconhecimento e valorização profissional. Hoje a minha palavra maior é gratidão!

 

Fonte: ASCOM COREN-AP

 

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